Santa Maria Madalena e Santa Maria Egipcíaca por Tintoretto e a Psicanálise

Magali Ferreira
3 min readApr 4, 2021

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Santa Maria Magdalena -Tintoretto — Igreja de San Roque — Veneza
Santa Maria Egipcíaca —Tintoretto — Igreja de San Roque — Veneza

A arte é a melhor maneira de se conhecer a alma humana. Nela podemos encontrar toda a amplitude de nós mesmos, seres mortais. Essas duas obras, que se encontram juntas na Scuola grande di San Rocco - Veneza, me indicam a amplidão. O quanto somos parte de um todo maior. E quantas coisas estão ao nosso redor fazendo parte.

Em ambas as obras temos as figuras femininas sentadas a beira de um riacho com roupas parecidas em meio a natureza lendo, num jogo de luz e sombra.

Quando eu observei esses quadros me conectei com o meu eu. Pensei: Olhando para nós mesmos, estamos aprendendo mas não conseguimos ver a imensidão em que estamos inseridos. Pequenos flashes de luz aparecem, onde está concentrado o nosso saber e não nos damos conta no todo em que estamos inseridos.

Mas o eu interior guia nossos saberes: existe uma centelha divina que está lá presente a nos orientar em nossas escolhas. Ela está na sombra, no invisível. Cada vez que buscamos nosso autoconhecimento, ela está lá, nos orientando. Quão difícil é a conexão? Cada um tem seu tempo. Na terapia estamos simplesmente sendo facilitadores da conexão com nosso universo.

Tudo nessa obra me remeteu a amplidão, a conexão e a dualidade da vida.

A água, como símbolo da vida, está presente. Quando olho o riacho nos dois quadros, vejo dois momentos distintos. Um com mais tranquilidade outro com mais velocidade. A água corre como o tempo e são as veias da mãe terra. A fertilidade, a sabedoria, e a regeneração estão presentes, representando o poder do feminino como transformador/criador. No entanto temos o movimento sinuoso a força para seguir em frente, encontramos aí o masculino. Animus e anima caminhando juntos.

As figuras femininas estão com roupas bastante parecidas na cor vermelha, Cor do sangue ou talvez do fogo. O lado masculino que nos incentiva ao movimento. Percebem a união do feminino com o masculino? Animus e anima presentes novamente.

Ambas seguram na mão um livro aberto, talvez representando as revelações que encontramos ao descobrirmos nossos verdadeiros sentimentos. Em cada sessão de terapia fazemos a leitura de páginas de nosso livro. Quantas vezes não queremos abrir nosso livro? Quantas vezes ficamos com medo ?

E próximo delas temos as árvores, símbolo da vida e representantes do grande livro da natureza. Alguma vez vocês pensaram que assim como temos a árvore da vida, foi numa cruz de madeira que ocorre a crucificação. Quanta luz e sombra, vida e morte temos representado nesse momento.

As obras tem símbolos que criam um movimento, representando a linguagem da alma.

Na obra Santa Maria Madalena a árvore tem dois galhos visivelmente separados, mostrando o processo de individuação, e na obra Santa Maria Egipcíaca se unem, como quando na terapia, os contrários dentro de nós se conectam. Aí está nossa interligação com o self.

Se coloque agora entre essas duas obras. Uma figura feminina olhando para um lado, quem sabe o passado, outra olhando em direção oposta, quem sabe o futuro e você no meio.

Acho que ficaria horas olhando e a cada instante descobrindo novos símbolos e significados.

Como psicanalista penso:

Quais são seus traumas, suas angústias suas ansiedades, suas perspectivas? Onde você está hoje no seu caminho de individuação? Você já olhou para sua sombra?

A terapia faz você ver muito além. Um novo mundo se descortina.

Veja além. Faça terapia.

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Magali Ferreira

Consteladora Integrativa, Mediadora, Psicanálista, estudiosa de Ervas e benzimentos, Reiki, mitologia e Tarô aplicado a psicanálise, Orgones